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Nota de desencarne . Sr. José

01/07/2020

*Nota de desencarne . Sr. José . Obrigado padrinhos e madrinhas por juntos fazermos este trabalho . *- Hoje por volta das 11 da manhã nos deixava nosso querido José . Brincava com ele . Seu José , o senhor sabe que tem o mesmo nome do pai de Jesus ? Foram quase quatro semanas de aprendizado com seu José . Ele veio do Hospital Federal Cardoso Fontes . Um de nossos parceiros no acolhimento . Doença avançada , úlceras de pressão por todo corpo . Desafio : Entender como ele suportava. Muitas feridas , muito sofrimento . Doença castigava seu José . Não pegava leve . Nós olhávamos e tentávamos entender , como consegue ? Como pode ficarmos assim . Só tem uma resposta para o pouco que posso dividir . A presença de um espírito resignado . Esperança de ver somente uma pessoa . E ele se mantinha ensinando, para nós , o que é ser carismático e corajoso . Seus olhos demostravam gratidão . Enquanto podia falar , só dizia , obrigado . Gratidão . Deus os abençoe ! Gente , obrigado, gratidão , Deus os abençoe ? Meu Deus eu estaria esperneando de dor, eu estaria chorando , reclamando . E ele agradecia . Mas ele era o professor do amor . O fofo nisto tudo era como segurava a nossa mão . Apertava forte , com o tempo foi ficando mais frouxa . Nestes dias , sentíamos que logo ele partiria . Ele queria , ele pedia . Era um pedido de cansaço, não de incompreenção ou rebeldia . Mas a visita , a visita ainda não tinha chegado. A nossa instituição estava e está com muitas restrições a visitas . É o efeito COVID-19. Mas ele lá , e a mão cada vez mais fraca . Um olhar mais distante e também, atento . Na semana que sucederia a desencarne , falei : Ei seu José , aperta aqui minha mão . Não tinha força . O olhar dele penetrou no meu, ele falou comigo . O pensamento dele veio ao meu coração . Preciso ir , preciso vê-la . Saí um pouco tonto desta experiência . E tomei uma decisão. Este domingo vai ter visita para ele . Com medo e fé. Sim, vocês sabem que é possível sentir medo e ter fé ao mesmo tempo . Liberamos 30 minutos de visita para seu José . Nem imagina que do outro lado algum estava por sonhos se comunicando com ele . Era justamente , a visita. Preciso te ver . Vou te ver . E veio . A esposa . Amada esposa , grupo de risco em quarentena e isolamento . Mas o que dizer do amor e da fé? Ela veio sim , assim que soube que o moço , no caso eu , havia autorizado a curta visita . Do outro lado , medo e fé também . Mas aqui não somos clínica , hospital , emergência . Somos apenas uma Casa . A Casa de Francisco Acolhimento Hospice a casa que os sonhos tornaram-se realidade . A visita foi maior que o tempo destinado . O amor se expandia e a ternura fechou o ambiente para a despedida em carne. Naquele dia , uma força voltou a sua mão . Mas logo a necessidade de descansar também voltou . E alguém esteve muitíssimo feliz . E estava pronto . Ele sorriu , deu Adeus e começou a de despedir de nós , da Casa , da vida , da doença , dos ferimentos terríveis e ele morreu, hoje . Sereno , tranquilo , sem dor. Sem amarras . Só faltava aquela visita . Ele esperou. Pacientemente, nobremente até que o moço pudesse entender seu não verbal. A fala de seu coração pela sua mente. Eu preciso ir . Obrigado seu José . Agora continue sua vida, sem doença e sem feridas , sem dor. Fico devendo o vinho! Eduardo SucciniCasa de Francisco Acolhimento Hospice

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